Monday, May 30, 2005

Rebobinar

Ao fundo vejo-te claramente a face, marcada pelas psicadélicas em segundos apressados. É branca pura de onde desencarnam uns olhos que ainda não me olham. Vigias vazia o vazio mas este não te corresponde - Os amores andam sempre desencontrados! Tens uns cabelos que ali cintilam com tons de qualquer coisa. Acendem e apagam com ritmo próprio, contrariando o compasso ensurdecedor da sala. Nos lábios vêem-se réstias de um sorriso que um dia julgaste eterno. Estão... digamos... semi. Abertos ou fechados. O nariz não está em ti apenas para nos lembrar que a beleza é simétrica mas para, caracter a caracter, marcar em ti um carácter. Muito teu. Há uma orelha catita que ousa espreitar à superfície de teus cabelos e uma orelha outra que neles se afoga, se afaga. Passam por ti almas noctívagas que, como nuvens, ousam entorpecer o teu raiar. Não te descompões. Nunca te descompões. Circunstancial é o fumo que as une. Light... Quase todo ele fumo ultra-light.
Continuas a bastar-te de vazio, colherzinha a colherzinha.
Para que fique registado, estás sentada num vão de escada em pedra fria, com uma atitude que marca o despotismo com que teimas em viver. À tua volta vêem-se arcadas amarelecidas pela agressividade da música, do fumo e do tempo. Debruçados em varandas estão corpos a descansar e a criticar. Lá em baixo, junto a nós, bailam corpos extasiados. Tu continuas como no primeiro momento em que aquela falsa luz te fixou o rosto. Mais uma colherzinha, e outra, e outra, e outra...
Há alguém que se aproxima de ti com o intuito de te desconcertar. Traz uma camisola onde todos lemos STAF. Grunhe-te qualquer coisa que te obriga a desocupar a eternidade fria daquele momento. Agora, que te conheço, sei que não te levantaste sem antes articulares o pensamento: E se te fosses f****?
Depois, vens decidida em direcção a qualquer coisa que está em mim (Apagar). Vens decidida na direcção de alguma coisa que está dentro de mim (Apagar). Vens decidida na direcção de alguma coisa. Foi a viagem de cinco metros mais longa de que tenho memória. Passo ante passo, amortecidos pela suave ondulação dos teus cabelos, ousas rasgar a densidade do ar (Rebobinar). Passo ante passo, amortecidos pela suave ondulação dos teus cabelos, ousas rasgar a densidade do ar (Rebobinar). Passo ante passo, amortecidos pela suave ondulação dos teus cabelos, ousas rasgar a densidade do ar. Vens, e chegada ao pé da coisa que está em mim, ou da coisa que está dentro de mim, ou da coisa, dizes: Estás a olhar para onde parolo?

Monday, May 23, 2005

Inquietações

Um homem, na vida de uma mulher, não é mais que uma mera circunstância.

Monday, May 16, 2005

Amesterdam e a Publicidade Enganosa

Amsterdão é uma cidade com ruas concêntricas o que - por si só - prova que foi, é e continuará a ser, construída por pessoas que andam com a cabeça à roda. E não é para menos. Quem lhe entra entranhas adentro descobre um mundo diferente, cheio de mulheres lindas e drogas que dizem leves, ingredientes propícios à formação da mistela que põe qualquer cabeça nas nuvens. Fazendo uma introspecção para dissecar sobre a razão da beleza física das mulheres de Amsterdão, qualquer alma percebe que o segredo está nas bicicletas que diariamente pedalam: São elas que lhes puxam pelo canastro!
Decidi entrar a pé na primeira rua me levava ao centro do centro da cidade. Não era o centro do centro que almejava mas o “Red Light District”, zona da cidade onde mulheres despidas, tanto de roupas como de preconceitos, se exibem nas montras para os transeuntes. Confesso!, esse foi o meu intento.
Ao fundo da rua - por entre um colorido de raças, idiomas e movimentos, há homens que vestem de cabedal e nem precisam de andar de mão dada para me aperceber porque lhes arcavam as ancas, há idosos repletos de piercings os quais, por um lado, nos activam o receio de que alguma parte do corpo, orelha ou lábio, lhes possa cair ao peso do ferro e, por outro, nos lembram como devemos ser comedidos nas nossas extravagâncias para que a velhice, mais tarde, não se goze de nós, há lindas mulheres e distraídas (desculpem-me a redundância) que passeiam - avisto uma bandeira portuguesa a tiracolo numa montra onde se expunha atum enlatado, igual ao que se vende em Portugal, chouriços e outras iguarias. Entrei. Não tinha muito tempo para perder na procura da minha causa. Perguntei se falavam português ao qual me responderam que sim, num inglês perfeito. Disse-lhes que estava de passagem e que queria conhecer as zonas mais interessantes da cidade – Frisei bem: Interessantes! A senhora decidiu encetar prosa comigo, lá me deu milhentas indicações sobre locais ultra famosos, museus, galerias, palácios, mas o raio da zona vermelha, que é bom!, não havia meio de aparecer no seu discurso. “E mais... não há mais nada?”, perguntava eu já em desespero de causa. “É verdade”, disse ela, “também podes visitar a zona vermelha que é muito procurada e conhecida”. Sorri, na tentativa de demonstrar que estava familiarizado com aqueles esquemas, e perguntei: “Fica também na zona dos museus?” “Não”, disse ela, “fica numa rua por trás dessa área”. Pois bem, calcorreei a cidade tentando não perder de orientação o local onde houvera estacionado o carro, e nada. De vermelho apenas alguns cabelos pela cidade. Passei por centenas de Coffee Shops e fui ficando gaseado com o fumo que cá para fora, e de forma gratuita, era expelido. Sempre que perguntava pela zona vermelha obrigava-me a pôr aquele sorrizinho idiota para dar a ideia de que a pergunta se devia mais à curiosidade artística ou turística do que a outra qualquer pretensão de índole sexual. Na décima vez que perguntei pela dita vi que não necessitava do sorriso malandro pois aquela zona faz parte da cidade, vive e dorme com aquele povo. À medida que ia caminhando ia elevando as expectativas... As mulheres nas ruas eram mesmo bonitas e distraídas como todas as mulheres deviam ser...
Cansado, de todas as voltas e do excesso de informação que qualquer labrego se vê obrigado a assimilar sempre que visita uma cidade grande, cheguei a zona que manipulou todas as minhas intenções, e... Senti-me traído! Senti-me enganado! O material ali exposto não era, decididamente, o mesmo que arejo adejava pelas ruas. Era uma extroversão demasiado grosseira que chocava com a beleza congénita das mulheres de Amsterdão. Apeteceu-me rebentar com aquele cenário suturando nele uma visão dantesca da vida. Pensei que aldrabões só os havia em Portugal, mas não.
As mulheres bonitas de Amsterdão são a publicidade enganosa da zona mais vermelha da Europa (não entrando nas contas com o nosso Alentejo!).

Tuesday, May 10, 2005

Inquietações

O masculino de cozinha é?...

Thursday, May 05, 2005

Inquietações

Estou indeciso... Não sei se compre um sofá ou se faça uma viagem à Malásia.
(Esta matemática disjuntiva!)

Monday, May 02, 2005

Bruxelas e o Tuning Afeminado

Para além dos túneis que furam a cidade em direcção à imponente basílica, fazendo-me crer existir vida no interior da terra, da animação das praças de dimensão média mas faustosas, da diversidade de restaurantes e da multiplicidade de serventes – o António é português, o Abdel é marroquino e o Zidane é argelino, dos monumentos arrogantes, dos edifícios europeus pagos também pelos portugueses, nada me seduziu mais que o tuning afeminado, naquela que é, para mim, uma cópia falhada e em miniatura de Paris.
O tuning é a adaptação de carros de acordo com os gostos e com a maneira de ser de cada pessoa. Essa liberdade, que lhe é reconhecida, torna-o na confusão degradante que hoje vemos poluir as nossas ruas e estradas.
Em Bruxelas aprendi que há algo ainda de maior mau gosto que o tuning simples. É o tuning, arrisco, com toque feminino, o tuning afeminado ou abichanado... Uma espécie ainda mais parola de tuning à mistura com a decoração ou asseio dos carros.
Vamos lá ver: Que se coloquem elerons traseiros que mais parecem fogões de assar frangos ainda vá que não vá, as luzes neon a iluminar a estrada, dando aquele ambiente de casa mortuária, ainda passam, os vidros fumados a encobrir os espantalhos de óculos de sol, casaca de cabedal e gel no cabelo, estão também dentro do intervalo da anormalidade preconcebida ou calculada, as jantes a saírem meio metro para fora do carro até se admite como forma de protecção do veículo, agora, colocar uma almofadinha na traseira do carro ou um peluche colado num dos vidros laterais, ou ainda, um CD pendurado no retrovisor, é inadmissível! É o que de mais baixo existe no tuning! É coisa de mulher, estou certo. Um homem não brinca com peluchezinhos nem com almofadinhas - um homem com as hormonas todas no sítio, refira-se. Deixaram entrar as mulheres nessas coisas do tuning e ainda nem estamos a ver onde aquilo vai parar. Vai ser bonito vai! Não me admira nada se um dia vier a ver as casas do tuning transformadas em casas de decoração. Os automóveis com cortinados serão o próximo artefacto, antevejo!
Azeiteiros, não se deixem levar pelas falinhas mansas das vossas mulheres ou namoradas, não permitam sequer que o vosso lado feminino tome o leme do vosso restante eu. Estou certo que debaixo desse aspectozinho de rôto ainda há, em cada um de vós, réstias de um macho camuflado. Apelem à vossa masculinidade que, acho, repito, acho, ainda vão a tempo de se regenerarem.
Para terminar deixem-me dizer que este aparte não é dirigido ao azeiteiros portugueses. Este texto foi feito a pensar nos azeiteiros Belgas. Que fique bem claro!