Amsterdão é uma cidade com ruas concêntricas o que - por si só - prova que foi, é e continuará a ser, construída por pessoas que andam com a cabeça à roda. E não é para menos. Quem lhe entra entranhas adentro descobre um mundo diferente, cheio de mulheres lindas e drogas que dizem leves, ingredientes propícios à formação da mistela que põe qualquer cabeça nas nuvens. Fazendo uma introspecção para dissecar sobre a razão da beleza física das mulheres de Amsterdão, qualquer alma percebe que o segredo está nas bicicletas que diariamente pedalam: São elas que lhes puxam pelo canastro!
Decidi entrar a pé na primeira rua me levava ao centro do centro da cidade. Não era o centro do centro que almejava mas o “Red Light District”, zona da cidade onde mulheres despidas, tanto de roupas como de preconceitos, se exibem nas montras para os transeuntes. Confesso!, esse foi o meu intento.
Ao fundo da rua - por entre um colorido de raças, idiomas e movimentos, há homens que vestem de cabedal e nem precisam de andar de mão dada para me aperceber porque lhes arcavam as ancas, há idosos repletos de piercings os quais, por um lado, nos activam o receio de que alguma parte do corpo, orelha ou lábio, lhes possa cair ao peso do ferro e, por outro, nos lembram como devemos ser comedidos nas nossas extravagâncias para que a velhice, mais tarde, não se goze de nós, há lindas mulheres e distraídas (desculpem-me a redundância) que passeiam - avisto uma bandeira portuguesa a tiracolo numa montra onde se expunha atum enlatado, igual ao que se vende em Portugal, chouriços e outras iguarias. Entrei. Não tinha muito tempo para perder na procura da minha causa. Perguntei se falavam português ao qual me responderam que sim, num inglês perfeito. Disse-lhes que estava de passagem e que queria conhecer as zonas mais interessantes da cidade – Frisei bem: Interessantes! A senhora decidiu encetar prosa comigo, lá me deu milhentas indicações sobre locais ultra famosos, museus, galerias, palácios, mas o raio da zona vermelha, que é bom!, não havia meio de aparecer no seu discurso. “E mais... não há mais nada?”, perguntava eu já em desespero de causa. “É verdade”, disse ela, “também podes visitar a zona vermelha que é muito procurada e conhecida”. Sorri, na tentativa de demonstrar que estava familiarizado com aqueles esquemas, e perguntei: “Fica também na zona dos museus?” “Não”, disse ela, “fica numa rua por trás dessa área”. Pois bem, calcorreei a cidade tentando não perder de orientação o local onde houvera estacionado o carro, e nada. De vermelho apenas alguns cabelos pela cidade. Passei por centenas de Coffee Shops e fui ficando gaseado com o fumo que cá para fora, e de forma gratuita, era expelido. Sempre que perguntava pela zona vermelha obrigava-me a pôr aquele sorrizinho idiota para dar a ideia de que a pergunta se devia mais à curiosidade artística ou turística do que a outra qualquer pretensão de índole sexual. Na décima vez que perguntei pela dita vi que não necessitava do sorriso malandro pois aquela zona faz parte da cidade, vive e dorme com aquele povo. À medida que ia caminhando ia elevando as expectativas... As mulheres nas ruas eram mesmo bonitas e distraídas como todas as mulheres deviam ser...
Cansado, de todas as voltas e do excesso de informação que qualquer labrego se vê obrigado a assimilar sempre que visita uma cidade grande, cheguei a zona que manipulou todas as minhas intenções, e... Senti-me traído! Senti-me enganado! O material ali exposto não era, decididamente, o mesmo que arejo adejava pelas ruas. Era uma extroversão demasiado grosseira que chocava com a beleza congénita das mulheres de Amsterdão. Apeteceu-me rebentar com aquele cenário suturando nele uma visão dantesca da vida. Pensei que aldrabões só os havia em Portugal, mas não.
As mulheres bonitas de Amsterdão são a publicidade enganosa da zona mais vermelha da Europa (não entrando nas contas com o nosso Alentejo!).